quarta-feira, 27 de abril de 2011

Entrevista com a banda Fórcepz (SP)

                                                        

    Um mundo de bandas independentes que buscam reconhecimento à altura do próprio trabalho. Sem a ajuda de grandes gravadoras e/ou selos que permeiam o universo do mainstream.
Foi nesse mundo que pude encontrar a banda Fórcepz.

    Iniciada em 2006, na zona leste da capital paulista, a Fórcepz já tocou em várias casas do Rock paulista como: Formigueiro, Splash, Fofinho, Manifesto, Cerveja Azul e outras. Com a gravação despretensiosa de um ensaio, surge o primeiro CD demo: InDEMOnização de 2007. Com ele a Fórcepz inicia seu trabalho de divulgação na internet, que resultou na participação da Batalha de Bandas OiNovoSom/SWU, realizada no Estúdio Emme, no dia 10/09/2010, que valia uma vaga para o Festival SWU. A Fórcepz também foi finalista em outros festivais: em dezembro de 2010, do Arnette Garage Festival e em janeiro de 2011, do Ares Rock Festival. Essas experiências renderam boa repercussão à banda que hoje, na sua 3ª formação, trabalha com mais afinco e profissionalismo do que nunca.

    O rock da Fórcepz é caracterizado por uma peculiaridade costumaz para bandas do estilo mór dos idos anos 90. Grunge. Um grunge que passa pelo punk, metal, hard rock, post punk e pop. Têm como influência em se tratando de bandas, algumas como: Pearl Jam, Alice In Chains, Nirvana, Soundgarden, Radiohead e muitas outras.

    Roy (voz e guitarra), Wesley (baixo) e Rafa (bateria) formam o o trio de integrantes.

    E é com grande satisfação que vos publico uma entrevista realizada por mim com o vocalista da banda Fórcepz, Rodrigo Soares (Roy)




Eu: Visto que vocês já possuem um CD Demo gravado, de 2007, é natural sabermos a quantas anda um possível projeto para um álbum completo, de fato. O que a Fórcepz está planejando a respeito disso?

Roy: Nossa demo de 2007 foi uma gravação bem descompromissada, é um trabalho que ajudou bastante na nossa divulgação na internet, mas o resultado final não me agrada muito, soa meio amador. Nossos esforços estão voltados para a gravação do nosso primeiro EP, e queremos fazer o melhor trabalho possível, estamos atentos a timbres de voz, insrumentos e demais recursos. Desejamos lançar esse EP no segundo semestre de 2011.




Eu: Nas bandas que você citou como influências para a Fórcepz, o Radiohead é uma delas. Recentemente o Radiohead lançou um disco totalmente gratuito na web. Vocês lançariam um disco de graça na web?

Roy: Sim, achamos a iniciativa do Radiohead excelente, as bandas sempre ganharam mais com shows do que com vendas de discos/CD's. Certamente há mais pontos a serem discutidos, pois há um lado injusto em alguém realizar um trabalho e não receber nada, mas para a banda de trabalho autoral e independente como nós, o download gratuito é uma ferramenta a nosso favor.




Eu: Fale-nos um pouco sobre o nome da banda: quem teve a brilhante idéia?

Roy: Rs. Eu. Minha banda anterior se chamava Gauche, por causa de um poema do Carlos Drummond de Andrade, mas ninguém pronunciava correto e a explicação é de que é um termo francês que significa esquerda e que representa ser contra uma porção de coisas na nossa sociedade soava muito panfletária. Eu nasci de parto fórceps, é um nascimento, o surgimento de algo novo, de forma extremamente visceral, acho que combina perfeitamente com nossa proposta músical.





Eu: Uma pergunta que costumo fazer: Vamos supor que, minutos antes de subir ao palco, papeando no balcão de um bar, alguém dissesse que nunca ouvira falar da Fórcepz, e pedisse para que vocês se descrevessem, o que diriam?

Roy: Power-Trio de Rock Grunge/Alternativo, fortemente influenciado por Nirvana e Smashing Pumpkins; Rock Nacional dos anos 1980; mais doses cavalares de Punk e Black Sabbath. Ou um bando de doidos sem muita noção do que fazemos, mas mesmo assim fazemos com amor! Rs




Eu: Até que ponto a fidelidade às "raízes" e aos fãs atuais seria conflitante com uma possível ascensão ao sucesso mediante uma certa "concessão" para a mídia?

Roy: O termo Grunge já trouxe algumas discussões, usamos o termo pois o consideramos um facilitador, ao invés de explicar que fazemos um crossover de hard rock, punk, metal e melodias pop, usamos o termo grunge. E sobre fideliade, somos mais fiéis aos nossos principios, tenho várias críticas ao comportamento humano e profissional de artistas que admiro. E acho que nosso trabalho é tão sincero e intenso que caso alguém com ligações no mainstream queira trabalhar com a gente, fica muito óbvio para ele/ela que com a Fórcepz não rola essa de concessão, ou a pessoa curte mesmo, do jeito que a gente faz, ou procura outro artista.




Eu: Receio que por hora vocês estejam tocando ao vivo somente no Estado de SP; alguma previsão de excursionar Brasil afora? Por outro lado, como suas músicas são cantadas em português, não existe um projeto no sentido de tentar a sorte lá fora, estou certo?

Roy: Já apareceram convites para tocar em Pernambuco, Brasília, Rio e Paraná, o problema é conciliar a vida de músico com a de trabalhador comum. Estamos nos esforçando para que quando lancemos o EP, todos consigam pelo menos quinze dias de férias juntos, ai então sairemos de São Paulo. E quanto a tocar fora do Brasil, seria um sonho, temos contatos com bandas da Argentina, provavelmente ainda tocaremos lá, e outros lugares depende muito da recepção que nosso trabalho tenha lá fora, seria necessário uma estrutura de divulgação maior do que a dispomos hoje, espero conseguir isso. Rs




Eu: Como você vê o cenário brasileiro atual?

Roy: Ruim. Há várias bandas excelentes, mas o pessoal abriu mão dos espaços (rádio, TV), só a internet já está bom, ai fica tudo tomado por bandas muito ruins. Precisamos de mais iniciativa, no sentido de querer ter visibilidade, não é se vender, é querer mostar seu trampo com honestidade para o maior número de pessoas possível, não vejo nada de errado uma banda Punk ou de Metal ser bem sucedida, tocar em rádio, na TV/MTV, há vários fãs que vão chiar, mas essa sindrome de underground tem que ser superada, o importante é música boa conseguir espaço, artistas de verdade imprimirem sua marca em suas respectivas épocas, a minha geração está passando, vários artistas fantásticos, mas se continuarmos nos porões, em menos de dez anos essa época será lembrada como a época do emo/happy rock, o que seria uma tragédia.




Eu: Durante esses anos de banda qual foi o momento mais engraçado pelo que passaram e o momento mais tenso?

Roy: Engraçado foi ano passado no Estúdio Emme, na batalha de banda SWU / Oi Novo Som: Demos duas entrevistas: tinha dois camarins, um cheio de comes e bebes, outro com sofás; passagem de som, marcação no palco; um planeta totalmente novo para quem está acostumado a tocar em qualquer boteco, às vezes sem palco, tudo precários. Tocar lá foi um momento muito divertido, e vimos que apesar de ser diferente do resto da galera que tocou, a gente tem mais pegada. Tenso foi esse ano, tocamos na Fofinho Rock Bar, até aí tudo bem, ai uma banda de amigos, a Inflate, chegou para tocar, um pouco atrasados, a organizadora invocou e não queria deixar eles tocarem, apareceram uns seguranças, aparentemente armados, e tivemos que sair fora, bem tenso.




Eu: Por fim, agradeço a você pela atenção e simpatia para esta entrevista. Gostaria de deixar uma mensagem final para os leitores do blog?

Roy: Agradecemos muitíssimo pelo espaço. Parabenizamos ao Neto pela iniciativa e pelo ótimo trabalho que vem realizando. E convidamos todos os leitores a ouvirem nosso trabalho no www.myspace.com/forcepz, ou pesquise Fórcepz no youtube para ver nossos vídeos. E gostaria de pedir ao pessoal que realmente curte Rock para apoiar as bandas do underground, muitas delas não tem uma gravação caprichada, um fotolog cheio de photoshop, mas certamente fazem Rock com alma e vontade, sei que para fazer boa música é necessário muito mais que sinceridade e boa vontade, é necessário talento, conhecimento técnico e bons equipamentos, mas certamente a maioria das bandas que estão no underground com um pouco de apoio podem conseguir isso e muito mais, é do underground que virão os verdadeiros artistas, aqueles capazes de mudar a cabeça das pessoas através de um trabalho vivo e pulsante, pessoas que não abaixam a cabeça diante do tédio e da ignorância que tomaram grande parte do nosso cenário musical. Diga não à mediocridade, precisamos muito de vocês. Obrigado.

www.myspace.com/forcepz

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Reino, Poder e Glória: Amém


Perdoai as nossas ofensas
Assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido.
O pão nosso de cada dia nos dai hoje
O pão nosso de cada dia, o pão nosso de cada dia...

Seja feita a vossa vontade assim na terra como no céu
Glória Espírito Santo


    Que língua você fala? Se é que você fala. Você é algum tipo de anormal? Que vive pra levantar os que caem?

    Ei, você me diria porque o gato luta com o cão? Você vai à mesquita ou à sinagoga? E se nossa fé foi toda depositada em suas mãos e você escreveu o roteiro, por que existem os causadores de problemas?

Como vai você? Como é o sentimento de estar tão alto? E você é feliz? Você nunca chora?

Você cometeu enganos. Mas tudo bem, porque todos nós cometemos. Mas se eu perdoar os seus, você irá perdoar os meus?

Ei, você sente a nossa dor e se coloca no nosso lugar? Você nunca se sentiu faminto? Ou sua barriga está sempre cheia?

Quantas pessoas morrem e se machucam em seu nome? Ei, isso te dá orgulho? Ou te deixa envergonhado?


Thine is the Kingdom and the Power and the Glory
Amen!
Boa Páscoa a todos.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

20 anos do Nevermind - O último grande álbum do Rock 'n Roll



    No ano em que se completa 20 anos do lançamento do Nevermind, mais que uma homenagem; uma continência ao último suspiro do rock n' roll nos últimos vinte anos. Era setembro de 1991 quando o trio de Aberdeen - cidade rural no estado de Washington, EUA - mostrou ao mundo um álbum que revolucionaria a música para sempre.


    Recordo-me da primeira vez que pus o álbum pra ouvir. Moro em apartamento e tive um vizinho que gostava muito de rock. Lembro que todas as tardes após o almoço ele colocava seus discos pra tocar em umas sucateadas caixas de som, mas que àquela época faziam um bom estrondo. Era sempre divertido poder estar fazendo alguma coisa em casa e por tabela escutar os bons rock's dos saudosos anos 90.
    Eis que um dia, a convite dele, fui escolher alguns discos e fitas K7 pra gravar. Escolhi duas fitas K7 e não tinha encontrado um CD que eu ainda não tivesse. Encontrei um da capa azul. Um bebê ao lado de uma nota de dólar, imersos na água. Aquilo me chamou a atenção e só por isso resolvi pedir emprestado. Não preciso dizer qual foi o resultado.

    Partindo para um lado mais analítico do Nevermind, podemos dizer que o álbum já começa chutando as cadeiras e o que vier pela frente. Kurt foi um ótimo compositor. As canções são tão boas que entram na nossa cabeça como brasa e não param mais de queimar. "Smells Like Teen Spirit" é uma dessas músicas. Desde o início da repetida progressão de acordes à intrusão estrondosa da bateria, ela atingiu os ouvidos do ano de 1991 como "O que diabos é isso?" - Sombras de metal, tons de punk, uma melodia pop puro no coração dele e, caramba, esse cara parece seriamente maluco! E depois vem o solo, ao invés do genérico viajante, Kurt simplesmente segue a sua linha vocal com a guitarra. Se você está a par desse trecho da música, você deve estar se lembrando de como essa música soa de maneira única.
    Se o Nirvana não tivesse feito nada mais do que "Smells Like Teen Spirit", eles teriam sido os maiores One Hit Wonder de todos os tempos, mas pasmem: Isso é apenas a primeira faixa do CD e há muito mais, tão grande quanto. Cada canção é uma música boa e não há necessidade de pular nada. As três primeiras faixas ainda são enormes na rádio de hoje. "In Bloom" é brutal na bateria, uma linha de baixo doce e um solo de guitarra de Kurt, que é mais frio do que qualquer outra forma de viajar em solos mirabolantes.  "Come As You Are" tem um som próprio, som obscuro com efeitos de refrão pesado e então ela invade a ponte do Nirvana já clássico. "Breed" é como o metal, mas ainda muito punk. "Lithium" é definitivamente um clássico. Então eles levam para "Polly", uma música acústica. É sobre uma história real de uma menina que foi raptada e enganou o babaca que a perdeu de vista e a deixou escapar. "Territorial Pissings" é a música punk de verdade, Dave Grohl espanca os tons fora da bateria e a voz de Kurt é como uma súplica ao anseio de uma geração. "Drain You" é a idéia de Kurt para uma canção de amor, mas é confuso e isso torna as letras muito legais. Há um interlúdio instrumental interessante no meio também. Sempre que ouço alguém dizer-me que humilha Krist Novoselic no baixo (idiotas), eu vos apresento "Lounge Act". Esta linha de baixo é matadora. "Stay Away" também se mostra uma canção punk, os efeitos double caíram como uma luva nos vocais. "On A Plain" é uma grande melodia ainda obscura, soa como uma grande música. Por fim, fecha o álbum com outra melodia acústica que soa como Beatles. "Something In The Way". Belas harmonias vocais, além de que há um teor autobiográfico na música (ainda que haja controvérsias a respeito da veracidade dos fatos) - Kurt dormia debaixo de uma ponte. 


    Eu realmente não consigo expressar em palavras o quão grandioso é este álbum, você só tem a experiência ouvindo e sentindo. Não é metal, não é punk, não é pop - mas ainda assim é todos estes e muito mais. O Nirvana produziu uma verdadeira obra-prima com um presente: As letras de Cobain são muito diferentes do habitual, as guitarras são barulhentas e pesadas mas nunca um eco de porcaria metal, as linhas de baixo são bastante originais e a bateria se mostra incansavelmente por toda parte. 

    Outra razão para o clássico Nevermind se dá por causa de sua influência. Graças a este CD, outras grandes bandas têm o reconhecimento merecido (Pearl Jam, Soundgarden, AIC, etc) e Kurt nunca deixou de dar apoio para as bandas indie que ele amava como os Minutemen, Meat Puppets, The Vaselines, Flipper e outros. O Nevermind de fato gerou uma espécie de renascimento indie e ajudou a fazer rádio audível por um breve período de tempo no início e meados dos anos 90.


    Okay, isso é a glória do passado, mas o álbum é um clássico e nunca deixará de ser. É uma parte essencial da biblioteca de qualquer amante verdadeiro da música.



 
Nirvana tocando um sucesso do Nevermind: "Drain You" (MTV Live and Loud)


   
 

     

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Anos luz

    
 
    Tudo parecia total normalidade até aquele Janeiro. O mártir agora é andar lado a lado com a injustiça.
 
    Veja só; Eu usei martelos feitos de madeira. Eu pratiquei jogos com peças e regras. Eu decifrei truques no bar. Mas agora você se foi, não descobri porque. Eu propus enigmas e piadas de guerra. Eu entendi números e para o que servem. Eu entendi sentimentos, e eu entendi palavras. Mas como você pôde ser levada embora?
 
"A respiração pesada, arrependimentos despertados.
Páginas passadas e dias que poderiam ter sido
passados juntos, mas nós estávamos a milhas de distância.
Toda polegada entre nós agora se torna anos luz.
Não há tempo para ficar vazio ou não passar.
Oh, você precisa aproveitar tudo." (Light Years, Pearl Jam).

    Insisto na tecla da injustiça. O quão injusta a vida se sucede é no mínimo intrigante. É mesmo preciso todo esse processo a fim de um crescimento interior? Às vezes questiono-me se todo esse aprendizado é mesmo benéfico, de alguma forma. 
    Hoje eu sei que ninguém nesse mundo é feliz tendo amado uma única vez. Mas chega de lamentações, afinal, o decorrer dos acontecimentos são apenas os percalços para um produto final; quem sabe lá pelos quarenta.

    Um dos maiores anseios pessoais que tenho ainda está em fase de construção; Tudo vai conspirar à nosso favor e eu sinto que já passou da hora disso acontecer. Perdemos muito tempo; em contrapartida, tudo amadureceu e hoje o caminho é fértil. O grande dia está chegando e eu estou muito feliz em saber que não terei que esperar para sempre, ainda que por isso eu esperaria anos luz.

    Ó setembro, que honra para ti celebrar dois anos de uma linda história, hein? De quebra, coroando-me com um dos sonhos realizados... Sou mesmo um privilegiado. Que injustiça que nada.

 
PS.: Aproveito para expressar meus sinceros agradecimentos a todos os que me parabenizaram pelo blog, seja nos comentários, no msn ou mesmo pessoalmente, visto que já recebi vários elogios e incentivos para que continue a escrever. É muito legal ver que de alguma forma minhas palavras vos cativa. Obrigado.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

O que ainda não é mesmo belo




    É incrível vermos as consequências de uma personalidade complexa. Justo nós, seres humanos, que somos donos de nossa própria mente. Somos personagens neste imenso teatro da existência que é a vida; apenas peças de xadrez.

    Invadindo um pouco do campo da emoção, a coisa fica ainda pior. Freud dizia que um determinado nível de narcisismo está dentro de nós desde o nascimento. Contestável, porém verdadeiro. Impressiona-me perceber o quão belo é a capacidade de sentirmos as emoções até mesmo quando transcedemos o ideal de real e imaginário.

    Como ousam julgar patológico certos tipos de narcisismo? Ó ceus! Narciso pagou pelo preço da pureza. Rejeitou quem mais o desejava por escolha própria e foi condenado com a cruel maldição da paixão por si mesmo. Ora, se a mente humana é um dos universos mais intrínsecos já vistos, até que ponto vos cabe qualquer tipo de julgamento prévio sobre o que ocorre dentro dela? Desconhecimento de causa?

    Como é sabido, apaixonou-se incontrolavelmente pelo próprio reflexo na água. Não poderia suportar. Mas que prova maior de amor próprio, loucura, insanidade, paixão ou como queiram chamar, consegue ser maior do que morrer por si mesmo? Narciso se via nas águas e nela suicidou-se por afogamento. Ousem julgar patológico e vos desafio ao mito!


    Achar que Narciso foi apenas o ápice do drama insensível e da vaidade entorpecida é viver de olhos fechados para o nosso universo interior.

"Ele mostra, isto sim, a profundidade de um indivíduo que toma consciência de si mesmo." Em si mesmo e perante a si mesmo, ou seja, no lugar onde experimenta os seus dramas humanos."
(Cf.Bibliografia, Spinelli, Miguel, p.99).

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Maceió, Alagoas e a tal "Alagoanidade".



    Celeiro de riquezas, berço de paisagens de nos tirar o fôlego e de embasbacar a quem nunca outrora imaginava existir paraíso na terra. Estes jargões que já nos são costumaz não tampam o sol com a peneira e tampouco maqueiam a real situação de nossa cidade e estado.
    Por trás dos nobres edifícios de Ponta Verde estão os focos da miserabilidade da capital mais violenta do Brasil, da capital mais analfabetizada do Brasil, da capital com a pior distribuição de renda do Brasil. Estado marcado por contrastes. Povo desprovido: Educação, cultura, emprego, assistência social e até mesmo um olhar mais humano. Escravos permanentes de uma revolução social capaz de mudar o quadro atual. A população é excluída de quaisquer que sejam os projetos "in loco" - leia-se "relação governo-comunidade" -. Como consequência latente e que nos faz lamentar com grande pesar, a falta de uma "Alagoanidade" se faz presente. Não temos identidade, somos um cartão postal sem nome, como se a imagem não viesse com o nome do lugar grafado na mesma.

    Em meio a tudo isso, ainda é tempo de buscarmos nossa identidade. Somos estado da República Federativa do Brasil e nos mostrarmos dignamente ao nosso país e ao mundo é o mínimo que devemos a fim de permanecermos eternamente gratos pela gentileza do criador quando, no processo de criação do mundo, sentiu que nosso estado precisava ser visto com carinho. Abaixo, um poema que "esculpido em Carrara", traduz a terra dos marechais:

 "Sou capaz de imaginar o dia da criação de Alagoas.
Ô São Pedro, pegue o estoque de azul mais puro e coloque dentro das manhãs encarnadas de sol; faça do mar um espelho do céu povilhado de jangadas brancas; que ao entardecer sangre o horizonte; que aquelas lagoas que estávamos guardando para uso particular, coloque-as neste paraíso.
E tem mais, São Pedro: Dê a esse estado um cheiro sensual de melaço e cubra os seus campos com o verde dos canaviais.

As praias... Ora, as praias deverão ser fascinantementes belas, sob a vigilância de ativos e fiéis coqueirais;
Faça piscinas naturais dentro do mar; coloque um povo hospitaleiro e bom; 

E que a terra seja fértil e a comida típica melhor que o nosso maná.
Dê o nome de Alagoas; e a capital pela ciganice e beleza de suas noites,
deverá chamar-se Maceió; A padroeira; Nossa Senhora dos Prazeres."


Grato.

Em Tuas Pupilas



"Quand tu me prends dans tes bras
Quand je regarde dans tes yeux
Je vois que Dieu existe
Ce n'est pas dur croire."

    Antes da tua chegada, eu não tinha os olhos de hoje. Tudo era muito plano, metódico, regrado, desacreditado. Deus não podia existir nessa situação. Eu tinha perdido a esperança. Toalha branca! Era uma sensação de fadiga. Fadiga de beijar sapos em vão.

    E assim você chegou. Devolvendo-me a fé. Não com poemas e presentes, mas sim com defeitos e erros; Porém de pé.

    A vida é uma coleção de recordações. Mas não há nada que eu me recorde tão bem como a você. Desde seus lábios carnudos, o cheiro do seu cabelo ou a cor da sua pele. Não pense que você partirá e eu vou me resignar. Você é a melhor coisa que me aconteceu, entre o mundano e o sagrado. E algo mais.


        Mas com os olhos de hoje, posso ver algo em você, algo entre nós dois, que me faz insistir. Quando olho em suas pupilas sei que Deus não deixou de existir.






sábado, 9 de abril de 2011

O amor do outro mundo



    O cenário parecia mesmo fantástico. Os ânimos e as expectativas eram das melhores. Estar ao lado de quem amamos em um passeio de carro, na estrada, não muito longe. Mal podia imaginar que outro carro viria a impedir nossa passagem. Seu motor estava fundido. Não pude parar. Tentei desviar para a direita... Em vão.

    Como esquecer o som daquela noite? Que aterrorizante! Pneus cantando e os vidros estourando não foram nada perto do que ouvi por último: o seu grito de dor.

    Oh, senhor! Onde estará o meu amor? Por que a tiraste de mim?
Eis que me dei conta. Sim! Ela foi para o céu. Para o outro mundo. Assim, verei o meu amor quando este mundo eu deixar.
    Acordei enquanto a chuva caía. Em volta de pessoas sob olhares compadecidos. Senti um ardor nos olhos, uma sensação jamais percebida outrora. De alguma forma, eu ainda encontrei meu amor naquela noite. Como num sonho, ela olhou para mim e disse: - Me abraçe, querido! Só mais um pouco! -. Eu a abracei e a beijei. O último beijo. Existe maior dualidade do que encontrar um amor que sabemos já ter perdido?

    Bem, agora ela se foi, mesmo eu tendo abraçado-a com força. Foi o bastante para saber que perdi o meu amor e a minha vida, naquela noite.

   
   

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Para ti, Amável.

  

    Por que é sempre assim quando recordo-me de tua pessoa? Uma mistura de saudade com nostalgia, um disfarçe aqui e outro acolá, uma felicidade maqueada de tristeza e inconformismo. Recordar é viver?

    É totalmente compreensível a necessidade de sepultar um passado que ainda dói, seja por mágoa ou excesso de felicidade - sim, felicidade suprimida de repente, um verdadeiro caos interior -.

    Ainda hoje nas caladas das noites, me vejo recordando tudo aquilo que vivi, vivemos e vivo. Desde o primeiro contato na primeira calada da noite juntos. A moça era indefesa porém pertinente. Como uma flor na primavera, desabrochou-se. Talvez seu perfume me seduziu. Sua pele clara. Seu anjo precioso. Seu instinto materno. Sua ingenuidade. Sua beleza. Seu eu.
     Amável, você foi, é e sempre será a pessoa mais especial com a qual pude conviver. Talvez nenhuma outra oportunidade me foi tão conveniente e pura como esta, mas acredito que o que não foi recíproco com certeza passará por nova avaliação, da tua parte.

    Creio que lembrarás do dia em que eu te disse: A surpresa é a minha arma predileta. Como não podemos fugir da nossa essência, resolvo proferir alguns dizeres que com certeza por ti serão reconhecidos.

    "Dois corpos unidos em um só sublime e verdadeiro amor.
  Que o sabor ardente e o perfume envolvente de nossos corpos
permaneçam impregnados em nossas almas.
  Permanentemente."

    Se eu disser que até hoje acredito nisso tudo, da mão te segurando, protetora, acalentada e tentadora. Você acredita? 

    Para ti, Amável. Dona... ou simplesmente minha Cachoeira do Sul.

terça-feira, 5 de abril de 2011

Cabelo de anjo e hálito de bebê

Eis que me decido por externar os causos do cotidiano ou simplesmente do que vem constantemente à tona em minha mente. Coincidentemente ou não, dia 5 de abril - que há alguns anos se faz costumaz a tristeza disfarçada - é um dia saudoso. Saudemos a lembrança de duas grandes figuras que, por sua vez, têm imensurável significado em minha vida.

Kurt Donald Cobain. Ex-líder e vocalista do Nirvana. Nos deixou no mesmo 5 de abril de 1994. Fazia o muito com o pouco. Do pouco o muito. Do simples o complexo. Extroversão à flor da pele. Descontava a dor se jogando nas baterias, destruindo as guitarras; Enquanto Layne Staley (ex-vocalista do Alice In Chains) introvertido que era, limitava-se à exclusão, destruindo a si próprio com as drogas, até seu fim trágico também em 5 de abril; de 2002.



Se foram. Suas obras ficaram e é com elas que matamos um pouco da saudade; Que Deus os tenha onde quer que estejam pois sei que aqui, os remanescentes como eu, farão por merecer tamanho legado que nos foi deixado.

Esta foi uma breve homenagem a estes dois ícones da música, para sempre eternizados em nossos corações.


"Cut myself on angel hair and baby's breath
Broken hymen of your highness I'm left black
Throw down your umbilical noose so I can climb right back [...] "

                                                Heart Shaped Box - Nirvana