quinta-feira, 26 de maio de 2011

Para outro lugar

  
"A arrogância do coração é atributo dos homens de bem; a arrogância de modos é atributo dos imbecis. "
( Charles Pinot Duclos ) 


    Foram minutos discutindo sobre um amor do qual não quero mais fazer parte, com a doce intenção de sepultar um mal-estar desnecessário. Suas palavras, mesmo em alto e bom português, parecem não mais falar minha língua. Eu poderia muito bem gritar igualmente, se você não estivesse tão cega. Tenho um segredo pra lhe contar: seus heróis também têm defeitos, todos eles escondidos atrás do sorriso no comercial de TV a cabo.

     O ferimento em si não dói e nem doeu tanto quanto ver sua intenção em me ferir. Palavras tão pequenas de quem parece não ter mais nada a perder, somente um fadário de coisas a dizer, sempre antes de pensar. Que dissabor.

     Percebo que não importa mais onde eu esteja, preso num quartinho sem idéias ou caminhando livre na chuva, já não adianta sonhar, se em todo amanhecer preciso olhar no espelho e dizer para mim mesmo que aqui é o lugar.

     Todos os seus gritos me deixam com a impressão de que estou sempre atrasado, ou pior, que já estive nessa por tempo demais. Vou acabar ficando rouco diante de discursos formais, de tanta diplomacia, que dirá quando a solidão se manifesta tão necessária.

     A partir de hoje, só o que for muito, muito leve, bonito e fácil. A grande maioria desiste. Eu, só estou abrindo mão. Concordo contigo, também aconteceu comigo: o meu coração partiu. Para outro lugar.
                             -

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Vai um café?


    
Um dos produtos brasileiros por excelência, o café é parte chave de nossa história, de nossa economia e do nosso dia-a-dia.

    Já me vem sendo de costume todas as noites, apreciar o bom e velho cafezinho. Seja o descafeinado - aquele que conseguimos ver o fundo da xícara -, o expresso tradicional ou o capuccino, que pode ser daqueles industrializados, que vêm enlatados e perdem feio para aqueles que algumas cafeterias preparam, com todo um sabor cremoso que lhes são únicos.

    Fui criado rodeado de pessoas viciadas em café e nunca entendi muito bem o motivo para o sagrado café da noite. Era tão indiferente àquilo que hoje me surpreendo quando me pego tomando o mesmo café sagrado da noite. Não sei, às vezes só o amadurecimento nos remete a um poder de percepção mais aguçado, que nos permite mergulhar nas sensações a fim de compreendermos a essência dos pequenos gestos. Tomar café é um deles.

    Café este que é genuinamente brasileiro. Quem não se lembra daquela aula de história, quando o professor batia tanto na tecla no café no interior de São Paulo? Um dos produtos brasileiros por excelência, o café é parte chave de nossa história, de nossa economia e do nosso dia-a-dia.

    Tomamos café em casa, na padaria, na cafeteria, no trabalho e na casa dos outros; no café da manhã, depois do almoço e no lanche. Para alguns, como eu, é motivo de orgulho; para outros é puramente corriqueiro.

    Sinto falta da valorização do nosso café. É brasileiro por excelência mas ainda assim consegue se render ao way of life americano. Tenha dó. Brasileiros são bobos. Todos, em especial os endinheirados, pois não tem bobo maior que aquele que se acha esperto. Uma das provas de como somos bobos é nossa necessidade de validação no âmbito internacional, exemplos abundam: se fizermos um intercâmbio, temos mais chances de conseguir um emprego em uma grande empresa; se estudamos em uma faculdade estrangeira, todos se impressionam; todo ano achamos que vamos levar o Oscar de filme estrangeiro; se um músico nacional toca no Central Park, só pode ser porque ele é muito bom, certo? Hmm, mais ou menos.

     Claro que há entidades das mais diferentes esferas que, independente de nações, têm uma qualidade ímpar e servem de parâmetro por merecimento. Mas fama não é sinônimo de qualidade. E é nesse ponto que chego ao tal de Starbucks.

    Não que a qualidade do café chegue a ser ruim, mas é evidente a afronta que o Starbucks provoca num país que orgulha-se do papel do café na própria cultura. Não existe uma tradição nacional - por cultura - de hambúrgueres, assim sendo, podem vir quantos Burger King's couberem. 

    Existem produtos nacionais dos quais devemos nos orgulhar, e cada um de nós, querendo ou não, nos encontramos em um deles. Nunca fui ufanista, mas sempre gostei do café. Esse é o meu time. Mas depois de tomar conhecimento de fato sobre como funciona a loja, confesso que esteja um pouco aliviado, considerando a mediocridade do produto, combinado com o preço (salgado) praticado. Me parece que se o Starbucks realmente colar, será por causa dos mais bobos, aqueles que têm dinheiro e acham que são espertos.

    Vai um café? (C)


sábado, 14 de maio de 2011

Pessoa certa


Assim como na TV, existem milhares de pessoas certas, não se engane, ainda chegarás ao infortúnio de encontrar a sua.
    Sabe quando mulher diz o oposto do que quer? Era só eu dar um apertão mais afincado naquela parte interna da coxa pra ela me sair com aquela clássica. Não vai escrever sobre isso, hein? Hein? Hein? Vai, né? Eu sei que vai. Não vou, pessoa certa.
    O "não vou", eu pensava enquanto meu sorriso amarelecia concordante, com o indicador e o polegar naquele movimentinho tipo "saquei a piada". Escritor, nós aqui, pessoa certa, apertão na virilha, escrever sobre isso. Saquei, saquei. Rá-rá. Ai, ai, pois é. Não, não vou. Coisa chata.

     Eu havia certamente encontrado a pessoa certa depois de me debater durante uns três invernos e uns dois verões. Como eu sabia? Eu não tinha a menor vontade de escrever sobre. Pessoa certa, quilos a mais, textos a menos. A fórmula que sempre acreditei. Meu indicador de felicidade interna bruta. Coisa chata.

     Não tinha erro, era a pessoa certa. Quando dava dez da noite, o telefone tocava de modo que já era costumaz. Voz doce e paciente. Não tinha erro. Pessoa tão certa que nem parecia uma mulher, era uma nora já feita. Bem resolvida, bem sucedida, de bem com o corpo, com a mente e com a vida, mantinha o ciúme, as angústias, os fricotes em cativeiro. Sabe gente que de tão perfeita chega a ser chata? Assim, geometricamente paradoxal mesmo. A pessoa certa pra mim e pra vender adoçante na TV. Essa última frase eu disse uma vez e prometi também não publicar.

     E quando resolveu me dar? Na condição de que eu não escrevesse sobre o fato uma vez consumado. Por quê? O que vai rolar fora de lugar? Nada, ué. Só sexo. Aquela coisa, torce, retorce, rola daqui, pega dali, conchinha pra um lado, um minuto, conchinha pro outro, outro minuto, por cima, por baixo. Nem um tapa na cara solto durante o sexo, um pronome depreciativo. Tipo "Seu puto desgraçado, gosta de me traçar, né?" Que isso, pessoa certa?  Educada por irmãs carmelitas, o que vão pensar? Deixa esses jargões do cais pra suas negas, meu bem. Até "negas" ela me deixaria ter. Perfeita. Coisa chata.

     Nem um errinho de nada. Então escrever sobre o quê, criatura de deus? Me diz. Como escrever sem vírgulas ou pontos de interrogação? Me diz. Nem um ódiozinho? Sim. Mas não aquele de cor avermelhada, que dá pano pra manga. Apimenta textos e a relação. Um ódio transparente, franco, sincero. Não uma máscara de uma infindável fonte de amor, sexo e minúcias sórdidas. Ódio mesmo. Uma raiva. Como levantar segunda-feira, sabe? Perto dela, toda hora era o despertar de uma segunda-feira. Dá uma bitoquinha aqui. Mas não escreve sobre isso, tá? Não vou, mulher, não vou!

     Estamos sempre atrás da pessoa certa, aquela de novela das oito, loucos pra tomar água-de-côco com vista pro mar. Assim como na TV, existem milhares de pessoas certas, não se engane, ainda chegarás ao infortúnio de encontrar a sua. Prepare-se para dias de absoluto fastio. O signo certo. Fala as coisas certas. Com as atitudes certas. Usa pijama pra dormir, come frango à passarinho de garfo e faca, não pula carnaval, gosta de Cecília Meirelles e fala "belíssimo" e nunca "horrores". Tudo no lugar, dentro do contexto.

     E o pior: a pessoa certa sempre chega na hora certa, sabe que é a pessoa certa, encaixa em nossos planos e traz consigo toda aquela felicidade que chega pra ficar. Principalmente quando achamos que é daquilo tudo que precisamos. Mas o mundo é incerto e estranhamente a pessoa errada sempre funciona melhor. Pra todo mundo é assim, o que dirá pra quem vive de histórias.

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Novas mensagens



Eu tinha a nobre intenção de estar agora te ligando pra dizer que amo você, seu sorriso perfeito, seu jeito de menina do interior perdida na metrópole, sua forma de encantar sem querer, mas diante da sua secretária eletrônica, só posso falar do quanto te odeio. Justamente porque a culpa por eu não estar amando alguém, e feliz por alguém, é unicamente sua. Parabéns, se você se orgulha tanto disso quanto de ser uma mulher que sabe jogar com as palavras e criar ótimas matérias fotojornalísticas...

Droga.

9-2-5-7-5-4-9-3

Olha, escuta isso, você devia parar de ser tão controlada e deixar pelo menos uma vez o coração vencer no seu corpo, ou usar um dos seus manequins pequenos, se largar no sofá de pernas abertas, no calor do meu abraço, num encaixe suave. Porque não se pode voltar atrás. Ok, você pode negar o chamado, o acaso, a chance, o que for, mas depois que você passa a olhar a fisionomia da outra pessoa de uma forma diferente e ternurenta, é como se você atravessasse uma ponte retrátil...

Céus.

9-2-5-7-5-4-9-3

O que eu queria te dizer, Princesa, bem, você deve me achar tolo, assim, declarando todo meu amor por tudo que você é após todos esses bipes, como se sua secretária eletrônica fosse um cúmplice, e provavelmente me achando um cara babaca e imaturo, que telefona enchendo o saco com apenas uns goles, mas o que eu queria mesmo te dizer é que o mundo é das pessoas imaturas, porque só elas têm coragem de se jogar sem medo, porque, como os loucos, são pessoas com passaporte pra errar. E todos os nossos erros são como impressões digitais que deixamos nas paredes cinzas e sujas dessa cidade...

Poxa.

9-2-5-7-5-4-9-3

Pode rir da minha cara, com razão. Mas eu estou muito mais próximo do amor que você e toda essa gente que você venera, e contará sobre isso pra gargalhar uma fria noite inteira. Mas eu vou te lembrar que essa negação gera sequelas, uma ansiedade típica de quem não viveu a própria vida. Não quero você como aquelas pessoas maledicentes, fãs de rivotril, que escondem atrás do riso uma raiva de quem conseguiu se entregar, incomodados com quem não economiza clichês, pessoas desinteressantes e com cara de frustrada, fracas por dentro...

Saco.

9-2-5-7-5-4-9-3

Princesa, sei lá, não sei o que anda mais difícil: ser eu, ou nós. Sabe, às vezes te amo por livre afeto, outras por uma necessidade forçada, mas na maioria das vezes, por mera reação química. Seu cheiro denso de cravinas que fica nos cabelos do meu braço por uma semana e meia. Eu acho que esse parentesco de perfume é nossa grande vantagem, faz com que, de algum jeito encantador, uma pessoa rara sempre reconheça outra rara no meio de tudo. Como se fosse...

Putz.

9-2-5-7-5-4-9-3

Uma coisa você pode ter certeza: vou cobrar cada promessa que você não me fez. É tão triste e comum as pessoas, mesmo que inconscientemente, desejarem amor sem presentear em troca o mesmo sentimento. O amor é uma via de mão dupla, mas por ora me sinto numa estrada cheia de placas para o purgatório, um lugar cheio de zumbis buscando redenção dos amores que esqueceram de viver, como aquele filme do Kubrick, sabe? Coadjuvantes que passaram todo tempo sorrindo pela metade...

Coitados.

9-2-5-7-5-4-9-3

Não quero perturbar, você deve estar cansada, talvez eu dê uma volta na rua, pensar sobre isso, não sei. Por enquanto estou aqui, de bobeira, imaginando como seria você aqui, forçando pra não esquecer sua fisionomia porque eu realmente acho que o sentimento perde viço quando a gente não consegue lembrar o rosto. Ouvindo aquela do Pearl Jam, sabe? Porque as canções de amor são como marca-páginas da nossa vida, como se ela fosse um livro, e deus sabe o quanto eu lamento que nossa história esteja passando em branco...

Caramba.

9-2-5-7-5-4-9-3

Ok. Pela última vez: Sou eu a pessoa que você tanto não procura.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Young Girl

 

    Um recado pra você. Chegou a hora de revirar tudo pelo avesso. Você já teve sinais o bastante pra perceber que tudo isso é verdadeiro. Não adianta mais achar que está sendo persuadida. Revire pelo avesso. Seu coração está preso e clama por liberdade. Dê a ele uns dias de folga. Sei que é só o centro da própria atenção. Quer um violino de presente pra representar e encaixar no seu verso?

"Young girl, violins, center of her own attention
Mother reads aloud, child tries to understand it
Tries to make her proud."

    Preciso saber exatamente o que está acontecendo. Ou você se revela ou a validade do seu mistério vai se expirar, como todos os outros. Às vezes tenho tanta certeza que prefiro brincar com as perguntas a ater-me ao comodismo da certeza absoluta. É medo? É vontade? É uma piada? Arrisque.

    O máximo que você pode encontrar é só um mar de sinceridade, ornamentado com barquinhos que navegam por ele; cada barquinho é um plano que deseja ser realizado. Vigiado por fiéis e altivos coqueirais que transmitem a segurança de uma certeza que você pode contar.

    Seja você. Não seja você ontem e só ontem. Não fale que o mundo é tão azul assim se no dia seguinte ele volta a ser negro pra você.

    Princesa eterna, seja bem vinda. Prometi não esperar mais nada, mas teimoso que sou, ao menos espero que as boas vindas sejam recíprocas. To be continued...